por Eliney Ferreira Faria*
Desde os primeiros relatos de cirurgia urológica por via laparoscópica nos anos 90, essa via de acesso tem se tornado parte integrante da vida cirúrgica do urologista. Nesses últimos 25 anos a cirurgia minimamente invasiva, representada fundamentalmente pela laparoscopia pura e recentemente pelas técnicas robô-assistidas, tem cada vez mais melhorado seus resultados oncológicos e/ou funcionais, e ainda tendo estes mesmos resultados muito bem documentados na literatura médica. Essas informações estão disponíveis tanto para o urologista como para os pacientes, que, devido à internet, muitas vezes chegam aos consultórios inclinados a realizar cirurgia laparoscópica ou robótica. Isso, sem dúvida, melhora muito a comunicação entre pacientes e médicos.
Neste contexto atual é muito importante que o urologista ofereça a opção de cirurgia minimamente invasiva e que esteja sempre estudando e lendo a respeito. A literatura atual está rica com artigos que descrevem a técnica, os resultados, a prevenção e a incidência de complicações. O problema é que alguns procedimentos em Urologia são complexos, envolvem ressecção delicada seguida de reconstrução e às vezes o entusiasmo e a motivação de quem está aprendendo acabam enfrentando o realismo de uma lenta curva de aprendizado, da necessidade de investimentos em tecnologia, da cobrança por resultados oncológicos/funcionais e do potencial de complicações nos casos iniciais.
O Departamento de Laparoscopia da SBU tem trabalhado para melhorar o aprendizado e tem se empenhado na educação continuada dos urologistas. Realizamos vários projetos, recebendo urologistas visitantes para acompanhar cirurgias, fornecendo material didático e aulas por teleconferência, além de assessoria para casos difíceis e capacitação por meio de eventos, cursos e programas de treinamento. Existem hoje no Brasil muitos programas de fellows em laparoscopia para a imersão de novos urologistas na cirurgia videolaparoscópica.
A cirurgia robótica é ótima em inúmeros aspectos que nem precisamos citar; o nosso serviço em Barretos contempla na prática os benefícios da cirurgia robô-assistida. O problema é que essa modalidade ainda não está disponível para a maioria dos urologistas em nosso país. Neste cenário brasileiro, especificamente, a laparoscopia ainda é ferramenta interessante e fundamental para se oferecer cirurgia minimamente invasiva aos doentes e a um custo competitivo em relação à cirurgia aberta. Hoje, a maioria das residências do país expõe o residente à cirurgia laparoscópica muito mais que no passado.
Justamente para saber como estava a cirurgia minimamente invasiva no nosso Brasil, foi realizada uma pesquisa no XXXV Congresso Brasileiro de Urologia, nos dias 31 de outubro, 1 e 2 de novembro de 2015, por meio de questionários autoaplicáveis, na qual avaliamos uma amostra de nossos associados em relação ao tema. A primeira parte das perguntas era referente a seus dados demográficos e uso cotidiano da laparoscopia e robótica, e a segunda em relação às preferências de técnica operatória minimamente invasiva. Esses questionários foram de preenchimento voluntário e anônimo.
Ao todo, 385 urologistas responderam completamente o questionário. A média de idade foi de 45,9 ± 12,2 anos (26 a 78 anos) e foram provenientes principalmente dos estados de SP (23,9%), RJ (12,7%), MG (10,9%) e RS (7,5%). Da amostra, 93% marcaram opção de atuação em urologia geral, 62% em uro-oncologia e 26% em uro-ginecologia. Dos que responderam, 75% informaram trabalhar em hospital privado, 38% hospital público e 26% em hospital com vínculo universitário/faculdade.
Ficamos felizes com o resultado, pois 55% dos urologistas que responderam ao questionário realizam algum tipo de procedimento laparoscópico em seu cotidiano, e os principais procedimentos realizados estão mostrados no gráfico. Por outro lado, somente 7% realizam algum tipo de cirurgia robótica. O resultado foi relativamente bom, porém bem menor que na Alemanha, onde pesquisa similar mostrou que 86% dos urologistas realizam laparoscopia (Imkamp, F; World J Urol, 2013). Um importante viés seria que esses dados alemães foram colhidos em centros terciários e nossa pesquisa foi feita com o urologista geral.
Da amostra, 88% realizam prostatectomia radical (PR) aberta, 26% fazem PR laparoscópica e apenas 5,7% fazem PR robótica. Com relação àqueles que não fazem PR laparoscópica, 40% disseram que não o fazem por não ter tido treinamento e apenas 11% disseram que acham a PR laparoscópica tecnicamente difícil. Daqueles que não fazem PR robótica, 57% disseram não terem tido treinamento e 65% não o fazem pois não têm acesso ao robô. O questionário tem mais dados que estão sendo avaliados e em breve esperamos divulgá-los no Portal da SBU e em publicação científica.
Uma vez que a literatura mostra cada vez mais resultados similares entre a cirurgia laparoscópica e a cirurgia aberta, concluímos que os 55% dos urologistas que responderam fazer algum tipo de cirurgia laparoscópica estão no caminho certo. Acreditamos que esse número tende a aumentar com o passar do tempo e que isso traz ganho de qualidade na assistência aos nossos pacientes preparando o urologista para o futuro, quando esse treinamento laparoscópico tende a ser otimizado para absorver com mais rapidez a técnica e a expertise em robótica. Por último, gostaria de agradecer ao presidente Carlos Corradi, pelo apoio incondicional ao Departamento, e também ao brilhante trabalho de todos os demais membros que compuseram a gestão 2014-2015.
* Coordenador da subárea de Laparoscopia da SBU
fonte: http://portaldaurologia.org.br/medicos/foruns-artigos/laparoscopia-no-brasil/